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14 outubro 2006

Fases do amor físico

Fases do amor físico
De: A Imortalidade, de Kundera: O mostrador.

3- A fase da verdade obscena

Algum tempo mais tarde, C convidou-o para sua casa. Era uma mulher quinze anos mais velha do que ele. Antes da entrevista Rubens repetiu diante do seu amigo M todas as obscenidades sublimes (não, já não eram metáforas!) que se propunha a dizer à senhora C durante o coito. Foi um fracasso estranho: antes de ele conseguir a coragem necessária para as dizer, foi ela própria que a proferiu. De novo, Rubens ficou estupefacto. Não só a audácia da parceira ultrapassara a dele como coisa ainda mais estranha, ela usara literalmente as mesmas combinações de palavras que ele passara vários dias a apurar. Esta coincidência entusiasmou-o. Explicou-a através de uma espécie de telepatia erótica ou de um misterioso parentesco de alma. Foi assim que entrou progressivamente na terceira fase: a fase da verdade obscena.
Fases do amor físico
De: A Imortalidade, de Kundera: O mostrador.

2- A fase das metáforas

Esta taciturnidade, foi-a perdendo a pouco e pouco com o tempo; achou-se extremamente audicioso no dia em que, pela primeira vez, designou em voz alta diante de uma rapariga certa parte do corpo dela. A audácia, para dizer a verdade, era menor do que ele pensava, porque a expressão utilizada era um diminutivo meigo ou uma perífrase poética. No entanto, sentia-se arrebatado pela própria coragem (surpreendido também por ver que a rapariga não lhe impunha o silêncio) e pôs-se a inventar as metáforas mais alambicadas para falar, por meio de um desvio poético, do acto sexual. Era a sua segunda fase: a fase das metáforas.

08 outubro 2006

As metamorfoses do polegar

Kundera

Mais tarde, enquanto fazia amor com essa mãe que defendia o direito do seu filho à sucção, Rubens colocou o seu próprio polegar entre os lábios dela; virando lentamente a cabeça para a direita e para a esquerda, ela pôs-se a lamber-lho. Com os olhos fechados, imaginava-se possuída por dois homens.

Esta breve história assinala uma data importante para Rubens, pois levou-o a descobrir um meio de experimentar as mulheres: punha-lhes o polegar nos lábios e observava a reacção delas. As que o lambiam eram indubitavelmente atraídas pelo amor plural. As que o dedo deixava indiferentes eram irremediavelmente surdas perante as tentações perversas.