Mostrar mensagens com a etiqueta Acasalamento. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Acasalamento. Mostrar todas as mensagens

16 janeiro 2007

Necessidade de acasalamento


… “ Mas essa necessidade de acasalamento não terá também a ver com uma coisa inerente à condição humana, o sentimento do desamparo?

É o que estou a dizer, não nascemos para ficar sozinhos. É rara a pessoa que, passado o tempo do luto – e muitas vezes nem é luto, é libertação ou alívio – não queira voltar a partilhar. O desamparo é uma coisa muito forte em nós. E aí os homens são muito mais carentes e dependentes do que as mulheres. As mulheres têm mais prática de estarem sozinhas. Uma das coisas que veio revolucionar este universo das mulheres sozinhas foi as novas tecnologias. Muita gente considera o paradigma da solidão, eu acho óptimo.

As relações virtuais?

Vejo mulheres sozinhas e com um círculo social muito fechado, que à noite estão nos “chats”, onde conseguem partilhas de intimidade enormes.

É compensador?

Acho que sim. Antigamente as pessoas sozinhas iam para os bailes de bairro. Eu vivia no campo Pequeno e, aos domingos, havia um baile num dos clubes mais antigos de Lisboa, que eu e os meus amigos chamávamos o «esfrega». Era para lá que iam dançar os chamados magalas e as criadas, que estavam em Lisboa e não conheciam ninguém. Muitos casamentos aconteceram assim. Estas formas de convívio desapareceram. Acho muito saudável que as pessoas sejam capazes de arranjar as suas redes. Seja lá de que maneira for. A solidão é uma coisa muito pesada.”


José Gameiro, 57 anos, doutorado em Saúde Mental, fundador da Sociedade de Terapia da Família (1978)

Entrevista de Ana Soromenho, in Única, Expresso n.º 1780 de 8 de Dezembro de 2006.