01 maio 2007

Das Amizades Virtuais às Paixões Reais

@_MOR AO PRIMEIRO CLIK

São cada mais os que passam do namoro na Internet para uma vida a dois. Conheceram-se a navegar e nunca mais deixaram de teclar. Mesmo que tenham que atravessar o Atlântico. As relações que nascem no ciberespaço crescem num ápice e amadurecem com intensidade. Mas, na essência estarão assim tão longe das outras?”

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É esse o percurso natural dos casais da net. Conhecem-se num chat, e aí se apresentam através de um perfil, ou num blogue. Trocam mensagens nesses sites, mas assim que a faísca acontece, passam para uma zona mais privada. Primeiro o e-mail, depois um serviço de instant messaging, quando a cadência das mensagens assim o exige. Só mais tarde o encontro em presença.
O jornalista Paulo Querido, 46 anos, autor do livro Amizades Virtuais, Paixões Reais, a Sedução pela Escrita (Centro Atlântico) considera que os sites de encontros são todos iguais. “A diferença acaba por residir na nomenclatura, na forma como se apresentam e no facto de estarem mais ou menos na moda, melhor ou pior frequentados, como num circuito de bares.”

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No livro Nos Rastos da Solidão (Âmbar), o sociólogo José Machado Pais observa que “as trivialidades da comunicação que fazem parte da vida quotidiana se reproduzem no ciberespaço. É certo que, na vida real, as emoções são expressas através de comportamentos audíveis ou visíveis, como o tom de voz ou as expressões faciais. Todavia, a comunicação mediada por computador tem os seus equivalentes funcionais.

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Outra das especificidades deste tipo de relacionamento é a inversão dos acontecimentos. Antes de se estar com o outro, já se sabe tudo sobre ele. Porém…”o lado sensorial é insuperável do ponto de vista das relações”. Habituem-se. O sociólogo Zygmunt Bauman escreve na sua obra Amor Líquido (Relógio d’Água), que “as relações virtuais estabelecem o padrão que orienta todos os outros relacionamentos.” Admite, assim, que as conexões nascidas na rede servem de modelo para os namoros reais da era pós-moderna.
A primeira coisa a brilhar na net é o intelecto”, corrobora Paulo Querido. Antes, há a escolha de um “nome de guerra”, que pode ajudar muito no começo de uma relação. “Constitui o primeiro filtro de escolha do parceiro(a), a forma mais imediata de apreensão do outro. Um sugestivo nickname pode ser tão atractivo quanto uma aromática água-de-colónia, uma madeixa de cabelos coloridos, um sorriso insunuante”, lê-se em Nos Rastos da Solidão.

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A investigadora norte-americana Sara Kiesler, da Carnegie Mellon University, sugere que a comunicação mediada pelo computador é desinibidora, levando as pessoas a dizerem tudo o que lhes apetece. Como o nome que usam é diferente do real, as suas declarações anónimas não obedecem às normas sociais estabelecidas. E as expressões corporais que contradizem alguns comportamentos, estão ausentes destas conversas.

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No amor virtual (como em todos os outros) a sorte ou o azar não escolhe idades, mas o fosso geracional ainda se mantém na rede. E os mais novos levam vantagem: as crianças já nasceram na era da massificação da Internet, os jovens aprenderam a sinalética própria do meio na adolescência; os maiores de 30 ou se adaptam agora a esta nova realidade ou ficam à porta da aldeia global.

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A psicóloga brasileira Ana Marta Nicolaci-da-Costa investigou os relacionamentos virtuais no boom dos chats. Concluiu que eles podem ser tão fortes e duradouros como os iniciados no mundo offline. Podem gerar ou desfazer uniões “reais”. "Os casais da rede não vieram substituir os outros. Vieram complementá-los.”
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Por, Luísa Oliveira, in Visão Nº 737 de 19 de Abril de 2007

3 comentários:

Trolha disse...

O texto deste post foi-me enviado por uma amiga a quem deixo aqui o meu muito obrigado. E um beijo.

luafeiticeira disse...

E fizeste bem em colocá-lo. Eu tb conheci o meu companheiro na NET.
jocas

Trolha disse...

Obrigado, luafeiticeira, pelo teu testemunho que apenas vem confirmar a actualidade e veracidade do conteúdo do post.

Obrigado e volta sempre.

Jokas virtuais.