Fases do amor físico
De: A Imortalidade, de Kundera: O mostrador.
3- A fase da verdade obscena
Algum tempo mais tarde, C convidou-o para sua casa. Era uma mulher quinze anos mais velha do que ele. Antes da entrevista Rubens repetiu diante do seu amigo M todas as obscenidades sublimes (não, já não eram metáforas!) que se propunha a dizer à senhora C durante o coito. Foi um fracasso estranho: antes de ele conseguir a coragem necessária para as dizer, foi ela própria que a proferiu. De novo, Rubens ficou estupefacto. Não só a audácia da parceira ultrapassara a dele como coisa ainda mais estranha, ela usara literalmente as mesmas combinações de palavras que ele passara vários dias a apurar. Esta coincidência entusiasmou-o. Explicou-a através de uma espécie de telepatia erótica ou de um misterioso parentesco de alma. Foi assim que entrou progressivamente na terceira fase: a fase da verdade obscena.
1 comentário:
Ana Pinto da Costa, said:
Não é razão para rotular alguém de anormal, se ela gosta de ouvir obscenidades ao ouvido antes e durante o acto sexual, ou se ele não consegue excitar-se sem alguns palavrões puros e duros sussurrados em voz doce.
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